Nasce uma escritora…
_
11 de maio de 2025
Eis que no próximo domingo, Dia das Mães, vou completar 15 anos da publicação do meu primeiro filho literário: Caixa de Desejos, hoje em 2ª e belíssima edição pelo Selo Tordesilhas, do Grupo Editorial Alta Books.
Mas esta história começou muito antes…
Poderia dizer que começou em 2005, há 20 anos, quando escrevi meus primeiros contos e romance, abrindo minha carreira literária.
Ou poderia dizer que começou em 2002, quando, efetivamente, publiquei meu primeiro livro, não de ficção, mas um livro técnico, dentro da minha área de atuação, como professora universitária e analista de sistemas.
Ou ainda que começou bem lá atrás, nos meus 12 anos, quando usando minha rapidez para datilografar, numa Olivetti manual, presente do meu pai, escrevi meu primeiro livro de poesias.
Este livro se perdeu, mas não a experiência da criação, muito menos a paixão por ler e contar histórias.
Desde criança, sempre gostei de criar narrativas. Naquela época, eram narrativas para a minha vida. Imaginava um enredo no qual havia cenários, cenas, diálogos e ações. Nele, ia vivendo e colecionando experiências: faculdade, primeiro emprego, um grande amor, viagens, casamento, filhos, uma casa, um carro… desejos pueris de adolescente. E quando chegava no final da vida, eu reiniciava minha narrativa, com medo de narrar o último capítulo. Narrava para fugir da realidade. Narrava para melhorar a realidade. Narrava para desenhar um futuro.
Hoje, com orgulho, agradeço por ter realizado todos esses desejos e muitos outros, mesmo aqueles que ficaram adormecidos, como o da escrita. Agradeço também por sempre buscar e lutar por um novo objetivo. Mas acho que agora, na vida real, ao pensar na carreira de escritora, tenho vivido o medo de narrar o fim. Calma, não pretendo parar de escrever, mas daqui a pouco explico do que estou falando.
A literatura sempre veio antes da Informática. A computação veio no 2° Grau, como “sustento”. De fato, me tornei uma profissional da área, fui professora, palestrei em congressos, publiquei livros técnicos, vivi uma paixão pelos algoritmos, códigos, sistemas e computadores. Mas a literatura sempre esteve lá, como o primeiro amor, o amor inesquecível. O desejo ficou apenas adormecido, uma princesa a espera do beijo encantado.
E este beijo encantado veio em 2005, pouco depois do nascimento da minha filha.
Os primeiros textos
Sempre fui uma leitora eclética. Gostava de ler contos, romances, poesia, teatro, literatura policial, crônica, auto-ajuda, entre tantos outros gêneros. Clássicos e contemporâneos. Brasileiros e estrangeiros.
A narrativa existia dentro de mim. O que me faltava era a técnica. Saber o que fazer e o que não fazer. Quando decidi me tornar escritora, comecei pela regra 2: escrever. A regra 1 eu já fazia: ler. E sempre li muito!
Então, como se estivesse só eu e o papel no mundo, sem ninguém para ensinar a dar os primeiros passos, sentei para escrever. Simplesmente escrever. Enquanto escrevia, qualquer coisa, qualquer gênero, eu mergulhava no mercado editorial. Conhecia eventos, autores, livros etc. Tirava o atraso dos clássicos que não tinha lido lá atrás. Colecionava livros de teoria literária, para superar a formação acadêmica que não tive na área.
Vasculhando minha gaveta virtual, tento identificar o primeiro rascunho. Encontro um arquivo com 17 páginas de anotações sobre o mundo literário, de 05/09/2005. Encontro vários primeiros rascunhos. Naqueles textos havia muito o que melhorar. Mas havia também o coração narrativo que pulsa até hoje. Na época, sem ter quem pudesse me pegar pelas mãos, para avaliar criticamente onde eu poderia melhorar, optei por submeter meus originais aos concursos literários.
Assim, em novembro de 2005, conquistei minha “primeira estrelinha”, com o conto “Paralelas”, sendo ele um dos 10 vencedores do I Concurso Literário Sergio Buarque de Holanda, São Carlos (SP).
Ainda em novembro de 2005, tirei o 1° lugar no Concurso “Lapa, canta a tua aldeia”, de Lapa (PR).
Em dezembro de 2005, foi a vez de conseguir o 2° lugar no I Concurso Literário UniSuam – Rio de Janeiro (RJ).
Primeiro ano e algumas premiações. Estava satisfeita? Claro que não. Nunca estamos. No meio literário, então, sempre queremos algo a mais. Se, de um lado, ficava imensamente feliz com os certificados e antologias onde via, com orgulho, meu texto publicado, por outro, ansiava sempre pelos concursos que traziam alguma premiação em dinheiro, ou que davam um status no meio literário.
Nesse processo, houve uma premiação cujo valor foi intangível. Em agosto de 2006, fui selecionada entre os 10 melhores projetos de romance na Oficina Literária do Portal Literal, que foi ministrada pelo Raimundo Carrero. Lembro de ter devorado, com muitas anotações, seu livro “Os segredos da ficção”.
Insegura sobre onde estavam as deficiências do meu texto, em 2007, entrei em uma oficina avançada de contos. Mas nem de longe foi uma experiência positiva. A forma como o professor e os colegas avaliavam nossos textos era extremamente ácida e desrespeitosa. A crítica precisa ser construtiva, mas também precisa ter um mínimo de educação na forma de apresentá-la. E o que acontecia ali era um pouco de humilhação. Sou sensível? Sim! Mas não se trata de sensibilidade, mas de empatia.
Foi a primeira vez em que pensei em desistir… Muitas outras vezes apareceram durante o caminho, mas ainda bem que não dei ouvidos.
As palavras borbulhavam dentro de mim, enquanto eu me entregava a um estado depressivo. Mas logo o desânimo deu lugar à vontade de tentar de novo. Foi, então, que em 2008, me matriculei em um workshop com a escritora Lívia Garcia-Roza (hoje, uma querida amiga), que digo sempre que foi minha madrinha literária. Ela ofereceu luz para minha escrita, respeitando o poder narrativo, e ajustando as pequenas arestas.
Novas oficinas eu frequentei nos anos seguintes. E elas, não só ajudaram a lapidar o meu texto, como me colocaram no centro da vida literária. Tive vários mestres: Marcelo Moutinho, Moacyr Scliar, Luiz Ruffato, Paulo Bentancur, José Castello e Claudia Lage. Então, eu me senti segura para jogar meus originais no mundo.
Nasce a “ativista literária” antes da escritora
Eu estava tão envolvida com a literatura, que não me bastava escrever. Eu precisava respirar a vida literária e transbordá-la por todos os poros do meu dia.
Passei a frequentar lançamentos e eventos literários, assisti a muitas palestras, fiz amizades com vários escritores – iniciantes ou não, acompanhava jornais especializados, comprava e devorava revistas temáticas…
Então, para ter “com quem conversar”, em 25 de maio de 2008, criei o blog “Canastra de Contos”. Veja só! Sempre o mês de maio! Mês das mães, da maternidade, da vida!
Ali compartilhei notícias literárias, divulguei concursos literários, dividi conhecimentos, dei indicações de leitura, filmes, peças de teatro e eventos, escrevi resenhas, entre tantas outras postagens.
Já pensei algumas vezes em apagar este blog, mas sempre desisto. É a narrativa da minha evolução. A narrativa viva do início da minha carreira. Ele nasceu no blogspot, depois migrou para o wordpress, e então sucumbiu a minha falta de tempo. Meio como acontece por aqui e nas minhas redes sociais, quando sumo de vez em quando. 🙂
A divulgação de concursos literários ficou tão séria que, em novembro de 2008, criei outro blog, o “Ficção de gaveta”. Alguns amigos escritores de hoje me conheceram lá.
Inconformada com o pouco espaço que a literatura brasileira tinha na mídia, em fevereiro de 2011, criei o jornal “Sobrecapa Literal”, o qual ficou no ar, com vários colunistas, até março de 2013.
O Sobrecapa me aproximou da produção de vários outros nomes fantásticos da literatura nacional contemporânea, como: Rodrigo Lacerda, Ivana Arruda Leite, Cíntia Moscovich, Flávio Carneiro, Elvira Vigna, Luis Eduardo Matta, Cristóvão Tezza, entre tantos outros. Se você aguentou me ler até aqui, eu te pergunto: quantos desses autores você já leu?
Em 2013, com 5 livros publicados por 2 editoras diferentes, deixei de lado o “ativismo literário”, e passei a me dedicar apenas à escrita. A gaveta transbordava de originais e, então, a luta era para fazê-los chegar à aprovação de novas editoras. Porém, nunca fui muito boa em me vender. E logo, logo, em 2014, o mercado editorial entraria numa grande recessão, assim como o país.
Mas este processo eu conto no próximo post.