Ana Cristina Melo
escritora

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20 anos de carreira – Uma história com muitos capítulos – Parte #2

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Logos das Editoras Bambolê e Opala

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De escritora à editora…

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De 2005 a 2025, muitas mulheres eu fui

É amanhã. Amanhã, as muitas mulheres que vivem dentro de mim, nas últimas décadas, estarão comemorando com grande alegria.

A principal delas – a mulher mãe. Aquela que rege meus pensamentos, minhas ações e minhas orações.

Depois, a mulher filha, com a gratidão de ter minha mãezinha ao meu lado.

Então, vem a mulher escritora. Essa que colocou tantos filhos literários no mundo, e sofre por eles, como qualquer mãe sofre pela sua cria.

Os primeiros livros que nasceram deste ventre literário foram do gênero infantil e juvenil. Natural. Minha caçula estava com 1 aninho, quando comecei a me dedicar à literatura, em 2005. Meu primogênito, começava a dar os primeiros passos como leitor voraz, aos 7 anos. Mas eu não escrevo só para crianças. Escrevo para elas, com a intenção de despertar nestes leitores iniciantes o mesmo brilho no olhar que eu experimentei, ao descobrir os livros quando menina. No entanto, amo ainda mais escrever para o público adulto, principalmente o público jovem adulto. Acho que é onde eu me sinto mais solta, mais feliz. É onde consigo metaforizar minhas angústias, meus valores, minhas preocupações. É onde posso me entregar à fantasia. E, principalmente, onde posso escrever textos que eu amaria ler. E isso é muito importante no meu processo criativo.

Mas se hoje eu cheguei a 34 livros publicados e no prelo, incluindo os que farei o lançamento na Bienal, certo é que houve um longo caminho até o primeiro título sair da gráfica e alcançar as mãos dos leitores.

Para entender, vamos voltar um pouco no tempo.

Primeira Fase: De 2005 a 2010

Falamos sobre este período no post anterior. Se você não leu, clique aqui.

No último post, citei que além de escrever eu também vivia a literatura. Uma das formas era frequentando lançamentos e eventos literários. Na época, um dos eventos importantes de LIJ (Literatura Infantil e Juvenil) era o Salão FNLIJ, organizado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Conhecia o autor Luis Eduardo Matta da coluna que ele assinava no Digestivo Cultural. E fui ao lançamento de um dos livros dele lá na FNLIJ. Lembro até hoje de ele autografar para meu filho Gustavo, e de dar toda atenção para a minha filhinha tagarela Beatriz, que se sentou num banquinho e começou a conversar com ele contando suas peripécias com o irmão. 🙂

Dali, começamos a trocar mensagens pelo Facebook, e por lá conheci outros amigos escritores do Luis Eduardo. E assim, eu me vi, tempos depois, inserida num grupo maravilhoso, que resolveu sair do virtual para o real, marcando um encontro no café da Livraria Travessa do Leblon. Então, com muito carinho, me acolheram nesse grupo que passou a se reunir toda semana. Não era fácil sair do trabalho, ir para o Leblon, e depois dirigir às 11 da noite, atravessando a Av. Brasil, até chegar no subúrbio, onde moro. Mas eu me sentia tão feliz ali! Era tão boa a sensação de pertencimento e de acolhimento. E tudo era aprendizado para mim.

Muitas pessoas passaram por este grupo. Algumas continuam morando no meu coração, num sofazinho de ternura e amizade, como é o caso do próprio Luis, da Susana Fuentes, da Eunice Gutman, da Angela Dutra de Menezes, da Lúcia Bettencourt, da Dag Bandeira, do Edney Silvestre, da Marcia Naidin, da Halime Musser e do Olavo Wyszomirski. Atualmente, reclusa como ando, principalmente depois da pandemia, não consigo mais frequentar os eventos. Mas sinto saudades daquele tempo.

A Livraria Travessa foi um cenário muito importante na minha vida literária, assim como a Biblioteca da ABL. Se nesta última, escrevi muitos textos em papel e caneta, depois de almoçar correndo e fugir para lá, para aproveitar meia horinha mágica; a primeira, se tornou a casa de vários dos meus lançamentos. Apesar do Caixa de Desejos ter sido lançado na Livraria Argumento do Leblon, todos os livros seguintes foram apresentados ao público na Travessa. Eu já era conhecida dos livreiros da seção de LIJ, era conhecida até mesmo dos garçons que serviam o coquetel dos eventos. Quem aí se lembra do Gil? 🙂

Eu também participei, com muita honra, de um grupo que estudava a obra da querida Lygia Bojunga, diretamente na sala de sua fundação, lá em Santa Teresa. Foram muitas semanas que saía do trabalho e ia para lá, para debater esse texto mágico da Lygia, e, de vez em quando, ser presenteada com a presença dela. Aliás, ganhei um presente muito mais especial, quando lhe apresentei o Caixa de Desejos, onde eu homenageava seu livro “A bolsa amarela”, e após ler, ela elogiou minha escrita, dizendo que tinha muita vida! Prêmio incalculável!

Estes encontros renderam momentos especiais, nos quais pude debater a obra dela e do Bartolomeu Campos de Queirós, na FLIST (Festa Literária de Santa Teresa), na FLUP (Festa Literária das Periferias) e no Salão FNLIJ.

Segunda Fase: De 2010 a 2015

Foram nesses encontros que conheci o editor do meu primeiro livro. Muitos não sabem, mas a primeira tiragem foi feita em coparticipação autora-editora. Foi a primeira e única vez. Aprendi muito neste processo. E investi muito também. O livro bombou entre os blogueiros literários (que despontavam no mercado), para quem eu adquiria exemplares e enviava para eles, junto com os mimos que tinha mandado fazer.

Durante muito tempo tive vergonha de assumir isso, porque o mercado desmerecia um pouco quem pagava sua primeira edição. Hoje me libertei dessas amarras. Tudo que eu podia provar ao mercado, eu provei. Agora me sinto livre para deixar minhas fragilidades mais expostas. Afinal, quantos autores renomados não começaram da mesma forma, não é?

De qualquer forma, hoje, meu primogênito literário vive numa nova casa, com uma linda 2ª edição do selo Tordesilhas, do grupo editorial Alta Books. E nestes 15 anos de vida a Marília e a Francine já encantaram milhares de leitores. Mais do que isso, o livro foi amado por leitores de todas as idades que, após o ponto final, se viam resgatando seus sonhos adormecidos. Os próprios leitores me intimaram a criar o “De volta à caixa de desejos”. Meu filhinho que, amanhã, está debutando, foi adotado em escolas particulares, aprovado e distribuído em escolas públicas de todo o Brasil.

Então, tudo que resta daquele primeiro passo é o grande orgulho que tenho, por ter a coragem de fazer o que foi preciso, para estrear no mercado literário. Mais orgulho ainda desta estreia ter se dado com o “Caixa de desejos”, que se apresentou como se fosse uma foto em prosa poética da minha força de vontade para lutar por meus sonhos.

Navegando aqui e ali, pelo meio literário, cheguei em 2015 com 6 livros publicados, outros já aprovados, e alguns passos orgulhosos na minha carreira, como:

  • Ter produzido um livro infantil, publicado em braile, para a Fundação Dorina Nowill;
  • Ter concedido entrevistas para vários programas;
  • Ter participado de algumas mesas de debate;
  • Ter sido homenageada no Jequitibá de Poesia;
  • Ter participado da 1ª Antologia da AEILIJ (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil);
  • Ter feito parte da diretoria da AEILIJ, como Coordenadora de Comunicação Impressa, sendo a editora responsável pelo boletim 22 (outubro 2014), comemorativo dos 15 anos da AEILIJ;
  • Ter feito parte da Antologia de contos “Encontros na Estação”, organizada e prefaciada por José Castello;
  • Ter sido convidada para fazer parte da Antologia de contos “Grandes Histórias da Bíblia” (Ed. Seleções), ao lado de escritores que admiro, como Ignácio de Loyola Brandão, Zuenir Ventura e Flávia Lins e Silva.

Terceira fase: De 2015 a 2022

Se todo o meu esforço inicial, para me aperfeiçoar e respirar literatura de todas as formas, me deram muitos frutos, o ano de 2014 veio alimentando o medo e o desânimo. O país entrou em crise financeira, com a recessão mais sentida nos dois anos seguintes. E, claro, que isto atingiria as editoras como se fosse um piano despencando de um prédio de 10 andares.

O sustento no mercado literário não é tarefa para quem tem coração fraco. Vivemos em um país que, hoje, temos mais “não leitores” do que “leitores”. Para se sustentar, as editoras investiam mais nas vendas para o Governo, do que nas vendas para o varejo. Com a crise de 2014, várias editoras fecharam as portas. Uma delas, inclusive, tinha livros meus aprovados, que voltaram para a gaveta.

A retração do setor foi sentida por muitos anos, atingindo outros players do mercado, como livrarias e gráficas que foram à falência ou pediram recuperação judicial.

Com a gaveta cheia de originais, e sem saber “me vender” para grandes editoras, que não tinham sido atingidas pela crise, me vi diante de uma decisão: Ou desistia de escrever, porque todo escritor espera que seus textos cheguem nas mãos dos leitores e, sem isso, o processo não se completa e o ciclo não se fecha; ou tentava produzir meus próprios livros, disponibilizando-os gratuitamente na internet.

A segunda ideia foi rejeitada, pelo medo do julgamento dos meus pares e após o conselho de uma amiga ilustradora. Foi, então, que a ideia se transformou em algo mais ousado e arriscado: abrir minha própria editora.

Lembro bem do nervoso que senti, ao terminar de preencher o cadastro, naquela quase madrugada do dia 10 de junho de 2015, temendo apertar o <enter> do computador, e confirmar a criação da Editora Bambolê!

Mas eu fiz! Não para publicar só meus livros. Pelo contrário, para abrir para o mercado uma nova forma de editar livros. E esta editora que começou muito pequenina, como uma empresa MEI no nome do meu marido, cresceu, conquistou vitórias e me deu diversas alegrias e muito orgulho!

A Bambolê nasceu com a ideia de focar na relação livro-leitor. O que importava não era o livro “ser comercial”, mas ele agradar aos leitores. Com o slogan “Ler é se encantar com o mundo”, o objetivo era produzir livros que despertassem nos leitores o prazer da leitura, com uma edição de qualidade e preço atrativo.

A Bambolê nasceu com tanto da minha energia, que a versão original que deu origem à logo foi desenhada por mim. Assim como o nome da marca é a palavra escrita com a minha letra. 🙂

Tudo que eu achava que deveria ser diferente no mercado eu tentei implementar na Bambolê: abertura transparente de seleção de originais; oportunidade para novos autores; respeito aos direitos autorais de autores de texto e imagem; pagamento diferenciado para ilustradores; edição caprichada e com revisão atenta; e, principalmente, livros de qualidade que encantassem os leitores.

Eu alcancei muitas vitórias com a Bambolê: descobri escritores preciosos que lançaram seus primeiros livros comigo; publiquei escritores amigos que sempre admirei; participamos de Bienais e feiras literárias; por algum tempo, tivemos a livraria física da Bambolê em Copacabana e alcançamos prêmios e seleções importantes, como: Seleção para o Catálogo de Bolonha, Selo Cátedra, Prêmio AEILIJ, seleção para o Clube de Leitura da ONU, seleção de livros para o Clube Leiturinha, aprovação para programas de Governo como SME-SP e PNLD (Programa Nacional do Livro Didático).

Só que, ao passar dos anos, fui percebendo na pele e na conta bancária que é muito mais complicado se sustentar no mercado do que qualquer autor ou leitor podem imaginar. Apesar de todas as conquistas, enfrentei muitos desafios e muitas decepções. Administrava a editora no meu tempo livre, fora do expediente do meu emprego que pagava as contas pessoais. Não tinha sábado, domingo ou feriado. E vivia colocando mais e mais dinheiro na editora, para não falhar com os autores que confiaram em mim. Tive pessoas especiais que foram meu braço direito, mas também tive pessoas que me fizeram conhecer a mesquinhez humana.

Em 2022, após sobrevivermos com muita garra à pandemia de 2020, decidi que não tinha como continuar. Graças às relações maravilhosas que conquistei no mercado, consegui vender a editora para o Grupo Editorial Pantograf, entregando um catálogo premiado e reconhecido no mercado, com mais de 60 títulos.

Fase atual: Desde 2022

Foi muito bom poder voltar a ser “apenas escritora”, sem a responsabilidade pela trajetória dos livros que eu publiquei.

Mas apesar de já ter mais de 20 livros publicados por editoras diferentes, decidi que um dos selos da Bambolê ficaria comigo para ser uma editora voltada para meus projetos pessoais.

Assim, nasceu a Editora Opala!

Claro que, desde então, muitos projetos eu desenhei, mas ainda não consegui tirá-los do papel, por limitações financeiras. Mas fico feliz de, pelo menos, ter conseguido reeditar dois livros que estavam esgotados: “Em suas marcas” e “Uma turma para Dora”.

Tudo deveria estar perfeito, mas a cabeça de um escritor não é tão simples assim…

Escrevi e publiquei livros que receberam muuuuuuitos elogios dos leitores. Mas o fato de não conseguir os caminhos para que muuuuitos leitores descobrissem esses títulos, aliado a problemas pessoais que têm me tirado a paz, me colocou de volta em uma depressão, que já estava em remissão.

Eu que sou carioca, vivo o momento da Unesco nomear a cidade do Rio de Janeiro como a Capital Mundial do Livro. Gostaria muito de ter chegado a este momento com mais visibilidade no mercado… Mas, apesar das frustrações, não posso reclamar de tudo que conquistei.

Daqui a pouco tempo, se Deus quiser, estarei me aposentando da profissão de Analista de Sistemas e poderei me dedicar integralmente à literatura, não só nas horas vagas.

Até lá continuo escrevendo nessas mesmas horas vagas, enquanto vou rabiscando ideias para o futuro.

Mas sobre isso eu conto no próximo post.

 

 

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