Ana Cristina Melo
escritora

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O que o efeito borboleta tem a ver com você?

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A tragédia que aconteceu no Rio Grande do Sul e tantas outras que vemos desenrolar-se pelo mundo têm me preocupado muito. Situações assim deveriam nos deixar mais humanos, conscientes, empáticos, responsáveis. E deveriam nos tirar da inércia, nos provocar a agir, a se mover, a fazer algo. E isso de alguma forma aconteceu, mas ainda é muito pouco, pois é pontual, é para tratar o sintoma, amenizar a dor, não para evitar que a doença apareça de novo.

Precisamos de uma conscientização maior. Precisamos de um movimento em ondas que faça as pessoas enxergarem mais do que o próprio umbigo. Ouvi algumas vezes a frase “a população está podre”, como conclusão, diante de tantas barbaridades que tomamos ciência. Afinal, tantas famílias perdendo tudo que construíram materialmente, perdendo vidas de entes queridos, enquanto outras se aproveitando dessa situação para saquear lojas e casas, criar campanhas falsas para roubar dinheiro, outras desviando dinheiro…

Não é a população. Se fossem todos, já não existiríamos mais. São, infelizmente, algumas almas que deixaram o mal que tem dentro de si crescer tanto, a ponto de apodrecer toda a sua estrutura humana. Como dizem, todos carregam luz e trevas dentro de si. Nosso esforço tem que ser sempre para que a luz brilhe muito mais. Não sei se conseguimos salvar essas pessoas. No entanto, acredito que podemos salvar o nosso mundo se todos os outros gastarem energia para cultivar mais do que para destruir. E podemos fazer um movimento contínuo que mude tudo para melhor. Porque se não fizermos isso, os movimentos atuais vão destruir nosso mundo muito antes do que imaginamos. Começo a temer o que meus bisnetos vão encontrar.

Nós, escritores, não criamos ficção científica porque gostamos de “ver o circo pegar fogo”. Não mesmo! Criamos obras que falam no pós-apocalíptico para mostrar, pela lente da ficção, o que pode acontecer se não pararmos agora de agir errado. Criamos obras para metaforizar o caos que vivemos nos dias de hoje; para fazer, por meio do entretenimento, que as mentes pensem e reflitam, e que essa reflexão seja uma semente para mudança.

Na minha distopia “A Rainha Perdida”, a sinopse começa exatamente assim “O mundo passou por guerras, escassez de recursos naturais e tragédias ambientais devastadoras”. Eu comecei a escrever este livro em 2018. Não tínhamos vivenciado a pandemia (2020), a Guerra Rússia x Ucrânia (2022), a Guerra Israel-Hamas (2023), ou a tragédia do Rio Grande do Sul (2024), mas nem por isso não tínhamos testemunhado outros desastres, como a maior catástrofe geotécnica e ambiental do país, em 2011, com as enchentes e deslizamentos da região serrana no Rio de Janeiro. Mas eu não sei criar uma cena como a do RS. Tenho medo. Sempre acreditei na força do pensamento e das palavras, para ser capaz de transcrever tanta dor em palavras ficcionais. Porém, ao criar um universo depois do mundo sucumbir é como se eu fizesse um alerta, sem mostrar todas as dores. Talvez algumas pessoas só entendam vendo as dores de forma ficcional. Mas eu ainda não consigo.

No romance novo que estou escrevendo, o prólogo começa com “Após 10 mil anos, a humanidade não aprendeu com os seus erros. Foram séculos de destruição da natureza, dos irmãos e de si própria”. É quase como se eu criasse algo inatingível em tempo, mas que alertasse hoje para o que pode acontecer. Os temas que me são caros ou que me angustiam estão recorrentes no meu trabalho.

O que importa é que a ficção, quando nos mostra o pós ou o durante do caos, quer que possamos parar algumas horas para refletir: “como é possível que cidades inteiras fiquem submersas?”. E, ao questionar, é para nos informarmos e descobrirmos o quanto estamos vivendo a Teoria do Caos, também conhecida como O efeito borboleta.

Poderíamos resumir essa teoria com a simples frase: “Todos os seus pequenos atos podem levar a grandes consequências”, ou, de forma mais metafórica, que o bater de asas de uma borboleta na China pode causar um furacão nos EUA. Se pararmos para pensar na ironia dessa situação, um vírus oriundo da China causou uma tragédia mundial.

A matéria da BBC de 2021 explica bem a teoria. Vale a pena a leitura.

O importante a se extrair dessa teoria é a ideia de que nossos hábitos têm consequências na nossa saúde e na nossa velhice, que nossos hábitos têm consequências no destino do planeta. Nossos e de todo poder público podre que só pensa em dinheiro e ainda mais poder. O lixo que não vai para o local certo; as árvores que não plantamos; os descartes de móveis, eletrônicos, remédios que não fazemos da forma correta; o consumo desenfreado; a energia limpa que poderíamos escolher utilizar; as vacinas que não tomamos; as mãos que não limpamos; o ódio que gasta mais energia do que o amor; a troca do tempo pela tecnologia… só para começar.

O que aconteceu no Rio Grande do Sul não é simplesmente uma fatalidade. Tem a mão do homem, em várias esferas. Tem a mão do poder público que não cuida, não previne. Tem a mão da população, que mata as árvores, joga lixo em locais impróprios.

Bastam pequenas pesquisas para mostrar como tudo está conectado. O aquecimento global, o derretimento das geleiras do Ártico à Antártida, e o fim que pode ocorrer com o aumento do nível dos oceanos em até 6 metros. Se isso ocorrer, milhares de cidades serão varridas do mapa.

Mas há quem acredite que não tem nada a ver com isso. Só temos. Da mesma forma que o clima, o aquecimento global, as tragédias ambientais foram piorando com o tempo, a partir de nossas ações de décadas, se começarmos agora uma mudança positiva, pode ser que consigamos salvar o mundo para os nossos bisnetos.

Então, vamos começar a pensar nas nossas ações? Vamos influenciar quem conhecemos a fazer melhor?

Para quem quiser saber um pouco mais, seguem três matérias que li há alguns dias:

 

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